COMPANHIA BAIANA DE PATIFARIA
HISTÓRICO

 


 

1987

A IDÉIA: Salvador. Bahia. Verão de 1987. Os atores Moacir Moreno e Lelo Filho, que se conheceram em 1982 no extinto Curso Livre do Teatro Castro Alves, se juntam aos, então, assíduos freqüentadores de platéias e bastidores do teatro baiano - os amigos Eduardo Leal, Tom Carneiro e Fernando Marinho. Após alguns encontros e muitas discussões sobre o modo predominante de se produzir um espetáculo teatral naquele final de década, decidem formar um grupo e inverter o processo de criação e produção, passando a
dividir com a figura do diretor toda a concepção da montagem, desde a escolha do texto. Embora o grupo tivesse participação em todas as ações, Eduardo Leal e Tom Carneiro assumiram funções de produção e coordenação, enquanto Lino Costa, Celso Júnior e Péricles Cerqueira foram convidados para compor o time de atores juntamente com Moacir, Lelo e Fernando, dando início aos primeiros trabalhos na sala de ensaio da Academia Aquarius, primeira empresa apoiadora do novo grupo. Surgia, então, uma nova companhia de teatro. O nome? Após várias sugestões (Grupo Abafabanca, Grupo Patifaria etc), a escolha foi por um trocadilho que já definia o que viria a ser a marca registrada daquele sexteto de atores, com todo o seu humor e irreverência: Companhia Baiana de Patifaria, cujo objetivo era pesquisar e montar um gênero teatral que andava ausente dos palcos baianos: a comédia – tendo inicialmente o teatro besteirol como fonte de pesquisa.

 
 
“Patifaria na Bahia não quer dizer desaforo ou pouca vergonha. A expressão significa também, brincadeira exagerada, que passa da conta.”
Por Jefferson Del Rios, Jornal da Tarde, SP/1991
 


 
O INÍCIO DOS TRABALHOS: Março/87. Num regime de cooperativa (funções, custos, perdas e/ou lucros bem divididos), foi estipulado um prazo (maio/87) para a estréia do espetáculo Azul Banana (posteriormente Abafabanca), mesmo sem haver ainda texto pronto, diretor ou pauta em teatros.
Jogos dramáticos, improvisação e criação de cenas que mais tarde viriam a ser escritas pelo grupo.
Ao final de março, com vários textos escritos pelos membros do grupo, além de textos de amigos (Filinto Coelho, Aninha Franco) que chegavam a cada ensaio, os esquetes que comporiam a primeira montagem estavam definidos, bem como a idéia de vinhetas: como forma de inovar a linguagem cênica na ligação dos seis esquetes.
Sem dispor de recursos para pagar as despesas com o diretor e na tentativa de inovar mais uma vez, a companhia convidou um time de cinco diretores a participar da iniciativa (Fernando Guerreiro, Luiz Marfuz, Hebe Alves, Paulo Dourado e Rita Assemany), dando a cada quadro do espetáculo uma possibilidade de encenação.

O ESPETÁCULO: O projeto final e completo para captação de recursos só ficou pronto um mês antes da estréia da montagem que, na época, se chamava Abafabanca (nome de um sorvete caseiro típico no verão nordestino) e que, além de apresentar a nova companhia, trazia a público três grandes inovações à cena teatral de Salvador: trazer o gênero besteirol à cidade, ser um grupo composto somente por homens e ter na direção vários diretores.

A estréia? Dia 04 de junho de 1987. O local? Um espaço adaptado para um teatro e anexo a um bar de músicos de jazz – o Ad Libitum (improviso). Tempo previsto para a temporada? Um a dois meses.
Abafabanca, em sua primeira versão, ficou em cartaz por quase um ano (1987/1988). Duas novas versões foram feitas: em 1988 Abafabanca na praia e, em 1990, Abafabanca no Verão Patife, com novas cenas, vinhetas, cenários e participação de dois novos atores: Ricardo Castro e Frank Menezes.

1988

Em meados daquele ano, os atores da Cia. Baiana já conseguiam perceber os erros e acertos entre a criação e a temporada de seu primeiro espetáculo. O regime interno de cooperativa ainda funcionava, mas cada ator necessitava ter uma outra atividade profissional para garantir sua subsistência. Após quase um ano em cartaz, Abafabanca era considerada um sucesso, mas não garantia o pagamento das despesas e nem lucros na mesma medida. Faltava aos “patifes” transformar em profissão a atividade que desenvolviam no e para o palco.
Do time de diretores colaboradores, Fernando Guerreiro foi o que mais se identificou com o humor dos atores, transposto das reuniões e ensaios para a cena. Guerreiro foi convidado pelo grupo a dar continuidade na direção e foi por meio dele que os atores tiveram contato com os textos que comporiam a nova montagem. Os três esquetes iniciais, apesar de autores distintos (Mauro Rasi, Miguel Magno e Ricardo de Almeida), tinham o universo do teatro como assunto e um quarto esquete havia sido escrito pelos próprios ”patifes” (Vapor Barato).
Numa divertida, mas exaustiva reunião, mais de 50 títulos foram sugeridos para o novo espetáculo (Cashemiere Bouquet, Cashemiere Por quê? etc) e, ao final, A Bofetada foi o nome escolhido para o que viria a ser a montagem que levou a Cia. Baiana de Patifaria à sua profissionalização algum tempo depois.
Mais uma vez sem patrocínio, a Cia. Baiana decidiu bancar os custos da nova peça, que teve produção mais bem cuidada que a primeira, e a Contraponto Produções foi contratada para cuidar de cada detalhe, sob a supervisão do grupo.
A Bofetada estreou em 24 de novembro de 1988 na Sala do Coro do Teatro Castro Alves (com apenas 120 lugares) e, no verão de 1989, já era tido como um marco da recente história do teatro baiano, com lotações esgotadas com antecedência e sessões extras para atender à demanda de público. A primeira versão de A Bofetada gerou excelentes críticas na imprensa nacional, ficando em cartaz por quase seis anos, e principalmente promovendo uma mudança radical no comportamento do público em Salvador e no interior do estado da Bahia, sendo prestigiada por um público que, antes dela, preferia freqüentar espetáculos visitantes, com atores da TV.
Com novas versões, diferentes elencos e ao longo dos 20 anos da Cia Baiana de Patifaria, A Bofetada atingiu a marca de mais de 500.000 espectadores, conquistou platéias em mais de 1.700 apresentações em 47 cidades do país, incluindo longas temporadas no Rio de Janeiro (teatros: Ipanema, Leblon, das Artes, Vila Lobos. Carlos Gomes) e São Paulo (teatros: Bixiga, Mambembe, Imprensa e Cultura Artística).

1994/1998

Uma semana após a última apresentação de A Bofetada, no Teatro Nacional de Brasília, em agosto de 1994, os “patifes” deram início aos trabalhos para a terceira montagem. Os atores Moacir Moreno e Lelo Filho, que desde 1992, tinham como colega de cena em A Bofetada o ator paulista Wilson de Santos, receberam dele uma sugestão para o novo texto a ser encenado. Wlson havia visto a montagem Noviças Rebeldes, dirigida por Wolf Maya, com elenco feminino de estrelas da TV, e sempre desejou montá-lo.
Após várias sessões de leitura da peça, faltavam-lhes os direitos autorais da adaptação de Flávio Marinho para o texto Nunsense, do americano Dan Goggin. O diretor de novelas da TV Globo e de musicais famosos Wolf Maya foi sondado para a liberação do texto, já que detinha os direitos no Brasil. Tendo assistido ao espetáculo A Bofetada no Teatro Ipanema, anos antes, Wolf decidiu dirigir as Noviças Rebeldes dos “patifes” com as seguintes condições: a de que os atores se preparassem tecnicamente para a empreitada e que a produção estivesse à altura de um musical da Broadway.
Após a perda trágica de um dos seus fundadores, o ator Moacir Moreno, durante o período de ensaios, a Cia. Baiana passou por uma transformação interna com novo registro comercial: Teatro de Comédia Produções Artísticas, sendo dirigida, a partir daquele momento, pelo ator Lelo Filho.
Após exaustivos cinco meses de preparo, entre aulas de canto, sapateado, balé clássico, coreografias e texto, Noviças Rebeldes, terceiro espetáculo do repertório, renovou o humor da Cia. Baiana através da comédia musical e apresentou ao público dois novos “patifes”, os atores Diogo Lopes Filho e Beto Mettig.
Noviças Rebeldes estreou em janeiro de 1995 com produção de Ana Paolilo e Sean O’Flynn e contou com o primeiro patrocínio (Telebahia/Lei Alfaya) conseguido pela Cia Baiana, permanecendo em cartaz em Salvador por um ano inteiro e viajando, nos três anos seguintes, por mais de 25 cidades do Brasil. Em novembro de 1997, o espetáculo foi apresentado durante duas semanas no St Clement Theatre, na Rua 46, circuito off Broadway, em Nova York.

1997

No verão de 97, a turnê de Noviças Rebeldes foi interrompida por uma razão especial. A Cia. Baiana completava dez anos e, para atores e produção, a ocasião merecia uma celebração especial. Assim, foi produzido 3 em 1, o espetáculo que reunia esquetes das três primeiras montagens em um só espetáculo, atraindo 35.000 pessoas durante três meses.

2001

A partir de 2001, a Cia. Baiana decidiu ampliar seu repertório realizando um plano antigo de montar um espetáculo dirigido ao público infanto-juvenil. Assumindo pela primeira vez a direção artística de uma montagem, o ator Lelo Filho convidou para a co-direção a atriz e diretora Fernanda Paquelet e, com subtítulo de um musical para todas as idades, A Vaca Lelé, a partir do texto de Ronaldo Ciambroni, estreou em setembro de 2001, atraindo um público de 40.000 espectadores. Em sua nova formação, a Cia. trouxe à cena, pela primeira vez, duas atrizes no elenco.

2002

Após a boa receptividade de público e crítica com A Vaca Lelé e com a nova meta de somar aspectos mais sociais às suas montagens, sem perder de vista o bom humor contido na escolha dos textos, Capitães da Areia, a sexta montagem do repertório, se tornou mais uma bem-sucedida parceria profissional entre os diretores Lelo Filho e Fernanda Paquelet. A investida em outro gênero foi feita sobre um texto que reúne denúncia social e humor, tão presentes na obra de Jorge Amado. A montagem, que comemorou os 15 anos da Cia. Baiana de Patifaria, apresentava as narrações do texto através da voz da cantora Maria Bethânia. Capitães da Areia reuniu um elenco de 13 atores durante um ano de apresentações e turnê pelo interior do estado da Bahia.

 
Moacir Moreno

Moacir Moreno, filho de Maragogipe e de Seu Antônio e Dona Benedita, irmão de Sônia, Márcio e Mário, completaria, esse ano, 50 anos de idade. Bailarino, coreógrafo, ator e talvez a pessoa mais bem humorada que eu já pude conhecer, se aqui estivesse mentiria mais uma vez a idade, diria estar completando não mais que 35. Um verdadeiro clown. Dos melhores!

Não teve a vida muito fácil, mas sabia como ninguém, sorrir dela e aproveitá-la. Foi um excelente filho e um homem honrado. Pra mim, mais do que um sócio,
 
um colega de trabalho, um amigo... Moa era como um irmão, daqueles que se podia contar a qualquer hora, pra rir ou chorar.

Fomos privados do prazer de dividir a nossa vida e o palco com ele. Mas, há algo que jamais vai poder ser apagado: a memória de um dos melhores artistas que a Bahia já criou. Foi com ele que a Companhia Baiana de Patifaria começou há 20 anos atrás.
Lelo Filho
09/01/2007



 

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